Por Breno Castro Alves
Newsletter da Elefante

 

A festa acabou, José. [Na verdade, ainda não acabou, e no final deste texto você ficará sabendo disso, mas não queríamos perder a chance de invocar Drummond.] Conseguiu comprar seus livros com desconto?

A primeira e principal exigência da Festa do Livro da USP é o desconto mínimo de 50%. Metade do preço, José, olha que beleza. E aí o quê? Sites de editoras caíram por todo o mercado nacional. Inclusive o nosso, que ainda está intermitente. [Ainda não conseguimos dar uma solução definitiva ao problema, gente, desculpem.]

Por que os sites caíram? Porque leitores e leitoras acessaram os servidores às centenas de milhares, quiçá milhões. E agora, quem vai dizer que o brasileiro não lê, José?

Boa essa frase. Precisamos admitir: roubamos do Matheus:

Mas entenda. Estamos exaustos. É uma segunda-feira de ressaca. A festa foi ótima e nós trabalhamos no bar, no caixa e nos bastidores. Olha que bom problema, não aguentamos de tanto público. Porque, verdade seja dita, a Festa do Livro da USP sempre foi apertada. Gente demais, mesas demais, obras demais, aquele bando de nerd maravilhoso suando no mesmo lugar. Alguém nos disse que a feira apresenta duzentos mil títulos, recebe cem mil visitantes, números grandes que quase não cabem nessas linhas.

Sabe o tipo de evento onde é impossível cumprir apenas a sua listinha? Fisicamente impossível. Não há registros de leitor que visitou a feira e saiu levando um único mísero livro.

Estamos lidando com fatos. Durante 21 anos a festa aconteceu dentro da Cidade Universitária, em São Paulo, onde fica a USP, lugar que você também pode chamar de Fazenda Butantã que ela responde. Este ano, porém, a pandemia exigiu o digital. Fomos para a nuvem e constatamos o óbvio: leitores de todo o país também se interessam por descontos de 50%. Ó, que surpresa. E assim a festa se tornou nacional.

A gigante universidade pública 

Evidente que é uma boa notícia. Estamos felizes, mas fala baixo porque a dor de cabeça ainda lateja. Enquanto pegamos mais água para beber, leia este trecho da Wikipedia:

“Idealizada por Plinio Martins Filho, professor da universidade e então presidente da Edusp, editora responsável pelo evento, a Festa do Livro da USP surge em 1999 para aproximar editoras e a universidade, oferecendo pela metade do preço parte das obras que formam as bibliografias dos cursos da USP.”

Cara legal, o Plinio, barateando os livros dos alunos. Mas por que nós, uma pequena editora, estamos festejando a venda de tantas obras pela metade do preço? “Vocês estão vendendo livro encalhado?”, perguntaria o desconfiado leitor. Não, nada disso. Oferecemos nossos melhores títulos — todos os que estejam em estoque — pela metade do preço.

O motivo é simples: para as editoras, oferecer desconto de 50% é uma regra. Quando você compra um livro em uma livraria, metade do preço de capa fica com o estabelecimento e a outra metade vai para a editora, que a partir dessa fatia deve pagar todas as suas despesas, de direitos autorais a impostos, de frete a salários — e esse é um grande etcétera que deixamos para outro texto. Na Festa da USP, porém, o desconto é concedido diretamente ao leitor.

Financeiramente, a festa é um momento importante para nós e nossos colegas. Devido ao desconto, vendem-se muitos exemplares, com retorno imediato (quando as pessoas compram em dinheiro ou débito) ou em trinta dias (quando compram no cartão de crédito). Na relação com as livrarias, o retorno financeiro é mais demorado: a editora faz a consignação; em trinta dias, a livraria passa a relação dos livros vendidos; e, em sessenta ou noventa dias, a editora finalmente recebe os 50% do preço de capa de cada exemplar.

Então, José, entende agora nossa dedicação à festa? Ela domina a rotina da Elefante. É uma semana em que mergulhamos inteiramente no evento, seja revezando na banquinha para atender aos leitores, seja para organizar o reabastecimento do estoque, seja na divulgação.

Neste ano, não foi diferente — aliás, foi pior, porque a queda do site deixou todo mundo envolvido na busca de soluções. A gente gosta de fazer livro. Tecnologia, programação, informática, quem tem tempo para estudar essas coisas? Resposta: a Angie, nossa programadora ponta firme no meio do tsunami. Obrigado, parceira.

Infelizmente encontramos apenas hoje, tarde demais, essa sugestão da Rebecca:

 

A incrível livraria de bairro

Mas não dá, Rebecca, esbarramos aí nos limites desse modelo massivo. Nossos cabelos brancos ensinaram que não é possível viver só de festa.

E, agora, conforme a ressaca vai passando, nós voltamos ao nosso trabalho cotidiano de incentivo às livrarias, sobretudo as pequenas livrarias de bairro, iniciativas voltadas para sua comunidade que todos os dias do ano estão com as portas abertas para receber leitores. São elas que, dia após dia, bairro a bairro, guardam as joias procuradas por leitores novatos e experientes e a multiplicidade de nossa literatura.

Em tempos de algoritmos e relações cada vez mais mediadas pelo celular, a experiência de frequentar uma livraria dessas, de fazer amizade com um bom livreiro ou livreira, trocar ideia, dar e receber sugestões, é insubstituível, não pode ser replicada de outra forma e vale cada centavo.

Então é isso, José, a festa acabou. Vai curar essa ressaca com o café da livraria da esquina.

Em tempo: para compensar os dias em que nosso site ficou fora do ar e as instabilidades de nossa lojinha virtual nos dias em que o site funcionou de modo precário, vamos estender os descontos da Festa do Livro da USP na Elefante até 19 de novembro: são mais quatro dias com livros pela metade do preço. Fica, vai ter Boulos :)

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