A Elefante em 2020 e um desabafo

Queridos/as leitores/as,

Nunca foi tão difícil escrever uma cartinha de fim de semestre. Este costumava ser um momento de celebração, em que comentávamos as realizações da Elefante nos primeiros seis meses do ano e anunciávamos, em primeira mão, as novidades para os próximos seis meses. Desta vez, porém, não estamos conseguindo comemorar…

Sim, graças ao apoio e à confiança de vocês, estamos funcionando quase que normalmente. Não tivemos que reduzir nossa equipe e, por enquanto, driblamos as incertezas: continuamos publicando e correndo atrás de novidades, planejando e preparando lançamentos. Mas tem sido muito triste ver o que acontece para além dos nossos home offices.

As mortes por covid-19, a violência policial galopante, os milicos e as milícias instaladas no poder, o completo desgoverno e a política de morte que emana do Planalto, a extrema precarização do trabalho, a miséria crescente (de novo), os distúrbios psíquicos causados pela pandemia, pela quarentena, pela desesperança…

Lançamos quatro livros em 2020: De bala em prosa, de vários autores; A potência feminista, de Verónica Gago; Mineração, genealogia do desastre, de Horacio Machado Aráoz; e Contra Amazon, de Jorge Carrión. Também abrimos a pré-venda de mais três: Pandemia e agronegócio, de Rob Wallace; Ensinando pensamento crítico, de bell hooks; e História social do LSD no Brasil, de Júlio Delmanto.

Tem muita coisa boa vindo por aí, com destaque para o novo livro de Silvia Federici sobre feminismo e comuns; Tudo sobre o amor, a obra mais esperada de bell hooks; #Vidas negras importam e libertação negra, de Keeanga Yamattha-Taylor; novos títulos da nossa coleção sobre alternativas: Antropoceno ou capitaloceno?Modo de vida imperial e Pluriverso: dicionário do pós-desenvolvimento. E mais, se a pandemia deixar.

Temos muito orgulho do que fazemos e da maneira como fazemos, e não pretendemos parar. Nossa manada cresce a cada dia, e isso é motivo de imensa alegria. Como vocês sabem, e a gente não cansa de lembrar, o apoio dos leitores é o que possibilita seguir nessa caminhada, e não apenas financeiramente: saber que vocês estão conosco inunda de sentido a correria do nosso dia a dia.

Mas há aqueles momentos em que olhamos em volta e nada parece fazer sentido, sabe? A realidade é massacrante. E, mesmo conscientes da posição de privilégio que ocupamos, bate uma agonia, uma sensação de impotência, um vazio…

Nestes momentos, em que o presente se revela desesperador, em que parece não haver saídas, nos esforçamos para erguer a cabeça e olhar um pouco mais adiante. Afinal, publicar livros é apostar no futuro — e o futuro, pra nós, só vale a pena se houver mudança. Não dá mais pra tolerar a ordem das coisas.

Por isso, por mais desanimadores que sejam o “tempo presente, a vida presente, os homens presentes”, como diria Carlos Drummond de Andrade, o que nos conforta é saber que os livros que tanto batalhamos para produzir contribuem para um mundo melhor.

Quando bate o desalento, nos agarramos à certeza de que, página a página, estamos construindo esse mundo com vocês.

Vamos juntos (mais do que nunca), em manada.

Dos elefantes

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